Poseidon - Museu do Louvre |
A compreensão dos significados
dos planetas, suas posições e aspectos geométricos e suas influências
específicas sobre os assuntos humanos foram pela primeira vez reunidos em uma
síntese unificada na astrologia de Ptolomeu, que foi também o maior
sistematizador da astronomia antiga. Nos séculos subsequentes, várias gerações
de astrólogos expandiram, revisaram e refinaram o sistema de Ptolomeu. Em sua
forma grega, completamente desenvolvida, a astrologia influenciou, durante
quase dois mil anos, a religião, a filosofia e a ciência da Europa pagã e
posteriormente cristã. Os astrólogos modernos, utilizando os avanços
astronômicos possibilitados pela invenção do telescópio, agregaram ao sistema
antigo os três planetas externos, Urano, Netuno e Plutão, que não eram
conhecidos pelos antigos, e estudaram e descreveram seus significados
arquetípicos.
A ciência ocidental retrata o
universo como um sistema mecânico impessoal e largamente inanimado, uma
supermáquina que criou a si mesma e que é governada por leis naturais
mecânicas. Neste contexto, a vida, a consciência e a inteligência são vistas
como produtos mais ou menos acidentais da matéria. Em contraste, o pressuposto
básico da astrologia é o de que o cosmos é uma criação da inteligência
superior, é baseado em uma ordem inconcebivelmente mais profunda e intrincada,
e reflete um propósito superior.
A perspectiva astrológica reflete
rigorosamente o significado original da palavra grega kosmos, que descreve o mundo como um sistema inteligivelmente
ordenado, configurado e coerentemente interconectado com a humanidade como uma
parte integral do todo. Nesta visão, a vida humana não é o resultado de forças
fortuitas regidas pelo acaso caprichoso, mas segue uma trajetória inteligível
que está em sintonia com os movimentos dos corpos celestes e que assim pode ser
intuída ao menos parcialmente.
O pensamento astrológico
pressupõe a existência de arquétipos,
princípios primordiais intemporais que fundamentam, informam e formam a
estrutura do mundo material. A tendência para interpretar o mundo nos termos
dos princípios arquetípicos surgiu inicialmente na Grécia antiga e foi uma das
características mais notáveis da filosofia e da cultura gregas. Os arquétipos
podem ser vistos através de várias perspectivas diferentes. Nas epopeias
homéricas, eles tomaram a forma de figuras mitológicas personificadas, como
divindades, tais como Zeus, Posseidon, Hera, Afrodite ou Ares. Na filosofia de
Platão, foram descritos como princípios metafísicos puros, as Idéias ou Formas
transcendentes. Eles possuíam sua própria existência independente em um reino
inacessível aos sentidos humanos normais. Nos tempos atuais, C. G. Jung trouxe
o conceito de arquétipo para a psicologia moderna, descrevendo-os
principalmente como princípios psicológicos (Jung, 1959).
As conexões reveladas pela
astrologia são tão complexas, intrincadas, criativas e altamente imaginativas
que não deixam qualquer dúvida de sua origem divina. Elas fornecem provas
convincentes de que há uma profunda ordem significativa subjacente à criação e
uma inteligência cósmica superior que a engendrou. Isso levanta uma questão
muito interessante: existe uma visão de mundo abrangente que poderia acomodar a
astrologia e assimilar suas descobertas? Através dos anos, e não sem muito
esforço e tribulações, cheguei à conclusão de que há uma visão de mundo que
pode absorver e explicar minhas experiências e observações da pesquisa da
consciência, assim como abranger a astrologia. Contudo, ela difere
diametralmente do sistema de crença que domina a moderna civilização ocidental.
Descrevi essa visão de mundo em
meu livro O jogo cósmico: explorações das
fronteiras da consciência humana (Grof, 1998) e apresentei-a também, de
forma condensada, em um capítulo anterior deste livro. Essa visão da realidade
é baseada em experiências e insights
de estados holotrópicos* e retrata o universo não como um sistema material, mas
como um infinitamente complexo jogo da Consciência Absoluta. Antigas escrituras
hindus descrevem uma semelhante visão do cosmo, referindo-se aos eventos nos
mundos dos fenômenos como lila, o
jogo divino. Tentei mostrar, em minhas publicações, que essa forma de ver o
universo está se tornando cada vez mais compatível com vários revolucionários
avanços do novo paradigma científico (Grof, 1985, 1998).
Se o cosmo é criação da inteligência
superior e não uma supermáquina que criou a si mesma, então fica mais
facilmente plausível que a astrologia pode ser uma de várias ordens distintas
incorporadas na textura universal. Ela poderia ser vista como um complemento
útil ao campo da ciência ao invés de uma inconciliável rival da visão
científica do mundo. A abertura conceitual para essa possibilidade tornaria
factível a utilização do grande potencial que a astrologia contém como
ferramenta clínica e de pesquisa para a psiquiatria, a psicologia e a
psicoterapia, assim como para várias outras disciplinas.
Texto extraído e adaptado do capítulo 9. Psique e cosmo, do livro
“Psicologia do Futuro” de Stanislav Grof. Ed. Heresis - Transpessoal.
* Estados Holotrópicos
O que são estados holotrópicos de consciência. Vídeo com Grof criador do termo.
O que são os estados holotrópicos? Stanislav Grof Vídeo (subtítulos em espanhol) clicar em legenda, abaixo a direita.
Vídeo (em inglês). Vídeo curto. Astrologia e psicologia transpessoal Grof.
Vídeo (em inglês). Vídeo 40 min. Cosmos and Psyche - Richard Tarnas, professor, psicólogo e filósofo, pesquisador pioneiro no estudo de astrologia e psicologia.
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