domingo, 7 de agosto de 2016

Astrologia e Psicologia Transpessoal

Poseidon - Museu do Louvre

A astrologia é uma antiga arte e ciência que teve origem provavelmente já no terceiro milênio a. C., na mesopotâmia, de onde se expandiu para a Índia e a Grécia. Ela tem como base a doutrina da harmonia universal. Seu princípio fundamental, expresso na frase “assim como está em cima está embaixo”, é o pressuposto de que o microcosmo da psique humana reflete o macrocosmo e de que os acontecimentos terrestres espelham os acontecimentos celestes. Na Grécia helênica, os astrólogos refinaram os cálculos astronômicos e determinaram divindades mitológicas específicas para os diferentes planetas, refletindo as associações mitológicas já estabelecidas pelos babilônios. Eles então usaram este sistema para prever os acontecimentos coletivos, assim como aqueles das vidas dos indivíduos.

A compreensão dos significados dos planetas, suas posições e aspectos geométricos e suas influências específicas sobre os assuntos humanos foram pela primeira vez reunidos em uma síntese unificada na astrologia de Ptolomeu, que foi também o maior sistematizador da astronomia antiga. Nos séculos subsequentes, várias gerações de astrólogos expandiram, revisaram e refinaram o sistema de Ptolomeu. Em sua forma grega, completamente desenvolvida, a astrologia influenciou, durante quase dois mil anos, a religião, a filosofia e a ciência da Europa pagã e posteriormente cristã. Os astrólogos modernos, utilizando os avanços astronômicos possibilitados pela invenção do telescópio, agregaram ao sistema antigo os três planetas externos, Urano, Netuno e Plutão, que não eram conhecidos pelos antigos, e estudaram e descreveram seus significados arquetípicos.

A ciência ocidental retrata o universo como um sistema mecânico impessoal e largamente inanimado, uma supermáquina que criou a si mesma e que é governada por leis naturais mecânicas. Neste contexto, a vida, a consciência e a inteligência são vistas como produtos mais ou menos acidentais da matéria. Em contraste, o pressuposto básico da astrologia é o de que o cosmos é uma criação da inteligência superior, é baseado em uma ordem inconcebivelmente mais profunda e intrincada, e reflete um propósito superior.

A perspectiva astrológica reflete rigorosamente o significado original da palavra grega kosmos, que descreve o mundo como um sistema inteligivelmente ordenado, configurado e coerentemente interconectado com a humanidade como uma parte integral do todo. Nesta visão, a vida humana não é o resultado de forças fortuitas regidas pelo acaso caprichoso, mas segue uma trajetória inteligível que está em sintonia com os movimentos dos corpos celestes e que assim pode ser intuída ao menos parcialmente.

O pensamento astrológico pressupõe a existência de arquétipos, princípios primordiais intemporais que fundamentam, informam e formam a estrutura do mundo material. A tendência para interpretar o mundo nos termos dos princípios arquetípicos surgiu inicialmente na Grécia antiga e foi uma das características mais notáveis da filosofia e da cultura gregas. Os arquétipos podem ser vistos através de várias perspectivas diferentes. Nas epopeias homéricas, eles tomaram a forma de figuras mitológicas personificadas, como divindades, tais como Zeus, Posseidon, Hera, Afrodite ou Ares. Na filosofia de Platão, foram descritos como princípios metafísicos puros, as Idéias ou Formas transcendentes. Eles possuíam sua própria existência independente em um reino inacessível aos sentidos humanos normais. Nos tempos atuais, C. G. Jung trouxe o conceito de arquétipo para a psicologia moderna, descrevendo-os principalmente como princípios psicológicos (Jung, 1959).

As conexões reveladas pela astrologia são tão complexas, intrincadas, criativas e altamente imaginativas que não deixam qualquer dúvida de sua origem divina. Elas fornecem provas convincentes de que há uma profunda ordem significativa subjacente à criação e uma inteligência cósmica superior que a engendrou. Isso levanta uma questão muito interessante: existe uma visão de mundo abrangente que poderia acomodar a astrologia e assimilar suas descobertas? Através dos anos, e não sem muito esforço e tribulações, cheguei à conclusão de que há uma visão de mundo que pode absorver e explicar minhas experiências e observações da pesquisa da consciência, assim como abranger a astrologia. Contudo, ela difere diametralmente do sistema de crença que domina a moderna civilização ocidental.

Descrevi essa visão de mundo em meu livro O jogo cósmico: explorações das fronteiras da consciência humana (Grof, 1998) e apresentei-a também, de forma condensada, em um capítulo anterior deste livro. Essa visão da realidade é baseada em experiências e insights de estados holotrópicos* e retrata o universo não como um sistema material, mas como um infinitamente complexo jogo da Consciência Absoluta. Antigas escrituras hindus descrevem uma semelhante visão do cosmo, referindo-se aos eventos nos mundos dos fenômenos como lila, o jogo divino. Tentei mostrar, em minhas publicações, que essa forma de ver o universo está se tornando cada vez mais compatível com vários revolucionários avanços do novo paradigma científico (Grof, 1985, 1998).

Se o cosmo é criação da inteligência superior e não uma supermáquina que criou a si mesma, então fica mais facilmente plausível que a astrologia pode ser uma de várias ordens distintas incorporadas na textura universal. Ela poderia ser vista como um complemento útil ao campo da ciência ao invés de uma inconciliável rival da visão científica do mundo. A abertura conceitual para essa possibilidade tornaria factível a utilização do grande potencial que a astrologia contém como ferramenta clínica e de pesquisa para a psiquiatria, a psicologia e a psicoterapia, assim como para várias outras disciplinas.


Texto extraído e adaptado do capítulo 9. Psique e cosmo, do livro “Psicologia do Futuro” de Stanislav Grof. Ed. Heresis - Transpessoal.


* Estados Holotrópicos

O que são estados holotrópicos de consciência. Vídeo com Grof criador do termo.

O que são os estados holotrópicos? Stanislav Grof Vídeo (subtítulos em espanhol) clicar em legenda, abaixo a direita.

Vídeo (em inglês). Vídeo curto. Astrologia e psicologia transpessoal Grof.

Vídeo (em inglês). Vídeo 40 min. Cosmos and Psyche - Richard Tarnas, professor, psicólogo e filósofo, pesquisador pioneiro no estudo de astrologia e psicologia.

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